Nos catálogos das exposições em que tem figurado, a pintura surge descrita como sendo a representação de um japonês cristão nos anos anteriores às perseguições de 1635.
A corroborar desta leitura acresce ainda o facto de, em 1997, o Museu do Caramulo ter recebido a visita de Ikuo Izumiya, estudioso da árvore genealógica da sua família, radicada em Nagasáki desde 1615, e que afirma ser descendente de Ichibei Izumiya, a figura supostamente representada na composição.
Mais recentemente, num trabalho não publicado, Paul Ugo Thiran fez a leitura das inscrições do quadro (frente e verso) e, concluiu estarmos perante a imagem de uma jovem mulher dançarina do teatro kabuki, vestindo-se à moda ‘namban’.
Tomando como ponto de partida uma nova tradução das inscrições da pintura por David Lopes Fo, surgem dúvidas sobre as duas interpretações anteriormente mencionadas. No verso da tábua podemos ler a legenda HACHIMAN GU (templo onde eram adoradas as divindades Hachiman e, no registo superior da frente da composição, os caracteres GO HÔZEN, que significam “diante de”). Consequentemente, pode-se inferir que esta pintura foi feita para ser colocada diante de um altar, neste caso o altar das divindades Hachiman.
Não se afigura credível que um jovem japonês convertido ao Cristianismo estivesse por trás de um pedido com estas características.
Provavelmente a figura representada refere-se ao intercessor do pedido, possivelmente um actor de kabuki, o que justificaria quer a sensualidade feminina que emana da composição, quer as similitudes iconográficas com outras imagens da época relacionadas com esta expressão teatral.