As duas placas de alabastro com as representações dos temas de Cristo em Oração no Jardim das Oliveiras e da Deposição no Túmulo são exemplares de uma indústria artística que floresceu em Malines desde meados do século XVI até ao primeiro terço do século XVII.
A Oração de Cristo no Horto, de relevo um pouco saliente, conserva alguns vestígios de policromia. Na composição, em que os apóstolos Pedro, Tiago e João surgem adormecidos no primeiro plano, inferior, e Cristo ajoelhado invoca o Pai no plano superior, são recuperados elementos figurativos quer das gravuras de Albrecht Dürer - Melancolia, na personagem do apóstolo do primeiro plano adormecido sobre o braço -, quer de Martin Schongauer - apóstolos a partir de Cristo no Monte das Oliveiras, série da Paixão -, quer ainda de seguidores de Schongauer como o Mestre AG - Cristo e Apóstolos -, que é a interpretação livre da gravura do mestre anterior.
No quadro da Deposição no Túmulo, de relevo mais fino que o anterior, conservando ainda traços forte do dourado aplicado no alabastro, a composição desenvolve-se em dois planos bem demarcados, o primeiro definido pela “muralha” de personagens - José de Arimateia e Nicodemos a segurarem o corpo de Cristo sobre o túmulo, duas Santas Mulheres, do lado direito, e São João Evangelista amparando a Virgem ao centro do grupo - e o segundo com um fundo de paisagem escarpada, de densa sombra. No primeiro plano, as personagens distribuem-se em volta do túmulo, disposto ligeiramente em oblíquo, envolvendo o corpo flectido de Cristo como se de uma concha se tratasse. Com esta organização, o escultor colheu alguma inspiração na gravura, nomeadamente nas figuras de Nicodemos e José de Arimateia que seguem fielmente modelos de A. Dürer.