Esta tabuinha pintada representa um São Jerónimo no deserto, ermo para onde se havia retirado em fuga do mundo. Abandonadas as prerrogativas da hierarquia da Igreja, simbolicamente representadas nas vestes cardinalícias pendentes de uma árvore descarnada, penitencia-se com uma pedra que bate contra o peito. Este tipo de pinturas de pequeno formato é, naturalmente tido, pelas suas dimensões, como peças para altares particulares, que se tornaram na expressão material de um tipo de devoção, que teve muitos cultores no dealbar do século XVI, sintetizada na corrente espiritual conhecida como devotio moderna.
Esta obra foi encontrada em Évora na colecção Joaquim da Mota Capitão, o que sugere que o quadro pode ter pertencido ao mosteiro Jerónimo do Espinheiro, muito próximo de Évora. Por seu turno, a tradicional atribuição do quadrinho ao pintor hieronimita Frei Carlos mais reforça esta hipótese. Sabe-se que este frade, que professou em 1517 no mosteiro do Espinheiro, pintou - se tivermos em conta as obras da sua produção que chegaram aos nossos dias - quase exclusivamente para a ordem de que era professo.