Peça compósita, este contador enquadra-se estilisticamente no riquíssimo universo do mobiliário lacado japonês para exportação, executado maioritariamente a partir de 1620, período em que a presença portuguesa no território ainda se faz sentir, mas em que a emergência de outras forças europeias começa a ganhar maior expressão.
Tanto para os contadores lacados orientais, como para os contadores europeus a imitar laca, fabricavam-se na Europa bases (mesas de suporte) e remates de elaborada talha dourada ou, mais raramente, prateada. Executadas numa talha exuberante fiel ao gosto da época, estas bases possuíam formas muito elaboradas, pernas lançadas em audaciosas volutas e faces entalhadas numa combinação de putti e folhagem de acanto, motivos recorrentes do Barroco.
É nestas peças que podemos encontrar a matriz das credências portuguesas da primeira metade de setecentos. Habitualmente executadas aos pares pelos entalhadores que realizavam a talha dos altares, o repertório ornamental destas “mesas” portuguesas inspirava-se no dos altares de talha dourada, sendo executadas no mesmo material - castanho -, madeira em que é fabricada a base do contador que aqui se analisa. Esta recorda, quer em termos formais como decorativos, algumas credências portuguesas do início do século XVIII executadas para os altares-mores de igrejas do Norte de Portugal.