Esta peça integra um vasto grupo de móveis de diversas tipologias (arcas, arquetas, bancas, escritórios e escritórios de estrado) cuja produção tem levantado dúvidas aos investigadores. Reunidos sob vários denominadores comuns, partilham tanto o material em que foram executados (cedro ou zimbro) como a decoração e respectiva técnica, constituída por incisões preenchidas com cera escurecida com noz de galha, passando pela técnica de construção empregue, patente sobretudo nas uniões emalhetadas. Nalguns exemplares, combinou-se esta técnica decorativa com os embutidos de várias madeiras. Outros estão datados com cronogramas de finais do século XVI, outros do início de seiscentos.
A última classificação, proposta por Jordão Felgueiras, Francisco Ernesto de Oliveira Martins e Pedro Dias, identifica estes exemplares como sendo de fabrico açoriano, tendo como pressupostos tanto a madeira em que são executados, como uma série de relatos de cronistas e viajantes dos séculos XVI, XVII e XVIII. Estas fontes documentais, a par de uma recorrente referência à abundância de madeiras no arquipélago dos Açores (cedro, pau branco, sanguinho, entre outras), anotam a existência de artífices que executavam peças de mobiliário, nomeadamente na cidade de Angra, que no século XVI era, segundo o cronista Gaspar Frutuoso “uma Lisboa pequena, onde haverá quarenta tendas de ferreiros e sarralheiros, e setenta e duas de carpinteiros de obra de caixaria e ricos escritórios (...)”.