Pintor académico formado na Escola de Belas-Artes do Porto, Eduardo Malta foi um breve companheiro dos modernistas portugueses dos anos 20 (com colaboração anónima no quadro que José Pacheko executou em 1925 para a decoração do café A Brasileira do Chiado) para, logo depois, sobretudo após a realização (1928) de um retrato equestre de Primo de Rivera, se destacar como o retratista preferido de uma elite mundana de aristocratas, altos-burgueses, políticos e alguns artistas e intelectuais.
Admirador da pintura antiga e da obra de David e Ingres, com confessada rejeição de toda a prática moderna e contemporânea, a começar pelo próprio Impressionismo, Malta cultivou uma pintura convencional de feição neoclássica inserível no “Regresso à Ordem” que, nomeadamente nos anos 30, norteou boa parte da produção pictórica oficializada ocidental, em prejuízo da experimentação vanguardista iniciada nos começos do século.
À data em que este retrato foi pintado, Amália Rodrigues contava vinte e nove anos e encontrava-se no auge da sua beleza e na charneira do reconhecimento como a mais exímia cantadeira que o fado havia conhecido, numa consagração que as suas incursões no cinema haviam já coroado. Mulher de origens humildes e intérprete privilegiada da sensibilidade popular, Amália surge aqui paradoxalmente aristocratizada e destituída de qualquer expressividade, como era hábito na produção retratística de Malta, num tratamento fisionómico de estilização neoclassicizante evidente no convencionalismo da pose e nos finos traços alongados do rosto, nariz, boca e mãos que o detalhe dos malares salientes não perturba.