Executado quando Salazar se encontrava em férias na Serra do Caramulo, ao longo de onze sessões de duas a três horas de pose, este foi o primeiro retrato pictórico do Presidente do Conselho de Ministros português, então em franca concentração de poderes.
Nesta obra, da qual Malta executou uma réplica destinada a uma das salas do novo edifício do Instituto Nacional de Estatística e, actualmente, no acervo do Museu do Chiado, denotam-se as particularidades da pintura do artista e, também, os pressupostos políticos do próprio Estado Novo: a figura de Salazar avulta solitária e em pose, sobriamente vestida de negro, demonstrando não só a austeridade do regime como, também, o próprio culto da personalidade do ditador oficialmente prosseguido. Por detrás dela, abre-se o cenário da Serra do Caramulo e seu arvoredo, apenas pontuado pelo motivo da igreja com seu campanário que se ergue isolada, denunciando os avatares da ruralidade e do catolicismo tão caros a Salazar e ao seu regime como, ainda, a mensagem redentora e salvífica do político.
Acresce a estilização convencional de Malta de pendor neoclassicizante no tratamento da figura, como o demonstra o tratamento dos dedos excessivamente alongados, de tal modo que o próprio Salazar, desagradado perante a obra acabada, obrigou o pintor a encurtar posteriormente a sua dimensão.