Confrontado com o drama sangrento da Guerra Civil de Espanha, da Segunda Guerra Mundial e da ocupação alemã da França, pátria de adopção na qual permaneceu, Picasso desenvolveu uma linguagem pictural expressiva e sombria, um mundo obscuro de formas contorcidas, espaços claustrofóbicos e cores cinzentas, cuja iconografia constrói a imagem da vida destroçada até aos limites da sobrevivência, e até para além deles.
À metáfora da morte que o crânio humano de mandíbula deformada e desmesurada em agonia tão bem expressa acresce a vitalidade inusitada dos alhos-franceses, interpretados pelo próprio artista como alusões a ossos cruzados. A esta harmonia de brancos, negros, ocres e verdes alia-se a pequena mancha castanho-avermelhada e, por isso, optimista dos frutos eriçados, imagem da vida que se renova e recomeça.