Nascido em 1921, Abel de Lacerda é filho, neto e bisneto de médicos. O pai, Jerónimo de Lacerda, fundou a Estância Sanatorial do Caramulo, a maior da Península Ibérica, na qual trabalhavam e viviam dezenas de médicos e centenas de pacientes. Sem vocação para a medicina, Abel de Lacerda estudou Ciências Económicas e Financeiras. Quando o pai morre, em 1945, decide interromper os estudos para continuar a sua obra. Casado com Maria Madalena Castro Alves e pai de três filhos, foi Presidente da Junta do Turismo do Caramulo – a segunda a ser criada em Portugal –, foi Deputado da Assembleia Nacional e manteve uma participação cívica activa e constante.
A sua paixão é, desde sempre, a arte e por isso, pouco a pouco, começa a recolher obras com o intuito de criar uma colecção e um museu, no Caramulo. Para constituir a colecção, desenvolve relações com artistas, historiadores e coleccionadores, não hesitando em estabelecer contacto com todos aqueles que pudessem contribuir para concretizar este sonho, como aconteceu com inúmeras personalidades, entre elas Pablo Picasso, que se tornou doador do museu.
Contemporâneo de outros coleccionadores portugueses, como Ricardo do Espírito Santo Silva, Anastácio Gonçalves ou António de Medeiros e Almeida, de quem era amigo, Abel de Lacerda rodeou-se sempre de amantes das artes e de personalidades da vida social, empresarial e política que desejassem contribuir para este projecto que ele queria que fosse “dos particulares e da generosidade”.
Abel de Lacerda morre em 1957 num acidente de viação. O seu carisma e a sua forte personalidade permitiram que, em apenas quatro anos, reunisse uma notável colecção e concretizasse um projecto único, muito à frente do seu tempo.